Pais perfeitos: Burn-out parental

Pais perfeitos e Burn-out parental

Hoje, escrevo-vos sobre um grande TABU, uma doença que eu acabo de descobrir e que me foi diagnosticada: Burn-out parental. Diferente de depressão pós-parto, pois esta doença é contextualizada, vem do facto de sermos pais. Resulta do stress da situação familiar. No resto, podemos continuar a funcionar muito bem (por exemplo no trabalho). Durante as aulas que dava eu estava bem, por exemplo.

Primeiramente, falo-vos da minha pessoa: eu, desde criança, que sou uma pessoa muito pensativa, uma pessoa que coloca muitas questões, que estuda e reflete constantemente. Por isto só, já é esgotante. Eu sou uma pessoa bastante sensível, com bastante empatia, absorvo bastante. Por isto só, já é exaustivo. Eu sou uma pessoa deveras perfecionista e com necessidade de ter tudo controlado. Só isto é sinónimo de uma enorme fadiga. Eu sou uma pessoa extremamente preocupada e responsável, em demasia.

E, ainda, eu idealizei muito durante a gravidez, estava encantada, criei grandes expectativas sem fazer ideia do stress que me ia aparecer com a maternidade.

Não foi diagnosticado logo... porque pensamos que tudo o que estamos a passar é normal... Temos vergonha de falar!

Mas afinal, como era antigamente?
Bom, antigamente, as nossas avós não tinham a mesma pressão que nós sobre os ombros. O que lhes era pedido era manter os filhos saudáveis e que tivessem sucesso na escola, para confortar a posição da família (estatuto social).
Hoje, pedem-nos bastante mais que isso. É preciso dar oportunidade à criança de descobrir os seus talentos, de estimular o seu potencial, de desenvolver-se/realizar-se. Além disso, a sociedade e o Estado exercem o direito de olhar pela criança. Antigamente, ninguém dizia como educar filhos, só dizia respeito aos pais. Hoje, dizem-nos faz assim, não faças assim, ...

Os primeiros sintomas apareceram três meses após o nascimento do Leonardo. Eu sabia que algo estava mal, mas não conhecia esta doença. Simplesmente, não compreendia o que me acontecia.

Nas redes sociais, a imagem de mãe que passava era toda ela diferente do que eu estava a viver. Eu devia estar contente, feliz, bonita, calma, perfeita e ... não! E, pior: ainda maximizava os sintomas, porque tinha apenas um filho! Um!
Lembro-me, na altura, de escrever que ser mãe era muito dificil, especialmente sem qualquer ajuda (família e amigos). Lembro-me de escrever que o Leonardo dormia as sestas no meu colo, porque na cama não iam para além de 30 minutos. Lembro-me de que com o stress, o meu leite secou e o Leonardo berrava a chorar com fome. Deixei de sentir prazer em estar com o Leonardo, de não aproveitar a maternidade (estava em modo de sobrevivência), de estar saturada de ser mãe, de passar os dias iguais em modo automático: agora é isto, depois é isto... MAS PIOR: Não estou a ser a mãe que queria, não estou a ser uma boa mãe, mesmo se pessoas desconhecidas me diziam o contrário. Enfrentar um novo dia era insuportável. Era aguentar, aguentar, aguentar... Desejar que o dia termine e vá deitar-me. Depois apareceram os problemas de sono (eu sou uma mãe sortuda, porque o Leonardo sempre fez noites inteiras, não me deu trabalho uma única noite! E mesmo assim eu não dormia!). Depois aparece a culpa... E culpabilizar-me esgota-me! O equilíbrio na relação com o pai foi quebrado. Estava super insatisfeita. Eu e o pai não estamos de todo de acordo com a maneira de educar o Leonardo. Estar a controlar o pai sobre as suas atitudes foi muito muito cansativo/stressante. Discutimos bastante. Não ter sido valorizada nunca. Não ter tido tempo para mim, porque o Leonardo solicitava-me bastante. Não ter sido ouvida. Estar isolada, sozinha. Um conjunto de fatores...

Aqui vos apresento os sintomas:
- Esgotamento físico e emocional; Não é um cansaço que passa com umas noites de sono; Simplesmente só de pensar no que há a fazer com o Leonardo já é esgotante. Quando me queixava de não estar a suportar a situação, ouvia: Tu é que quiseste ter o filho já. Tu é que não quiseste procurar um trabalho primeiro. Muita pressão! Muita pressão é metida nas mães que não trabalham. Uma carga mental enorme.

- Afastamento afetivo; Eu passei a agir em modo automático. Fazia o que era preciso, mas sem energia para investir em algo mais. Mesmo amando o Leonardo, havia uma distância, uma frieza. Deprimimos mesmo tendo o nosso filho connosco.

- Perda de eficácia e perda do sentimento de realização; Passamos a sentir-nos como más mães. Obtemos poucos resultados, damo-nos conta e culpabilizamo-nos.

É uma doença incapacitante, deixamos de dormir e, sim, precisamos de antidepressivos para suportar. Porque numa primeira fase pensamos no suicídio.

Os sinais:
- irritabilidade: sobretudo, em casa. Tudo nos irrita, tudo nos enerva,... :(
- negligência: sem vontade de brincar com o filho... :(

A vontade é de desaparecer, fugir de casa, deixar tudo para trás, suicidar até. Mas é vergonhoso. E, por isso, não falamos com ninguém. É dificil dizer que não vamos bem por causa dos filhos.
Em casa, não recebi valorização, nem compreensão pelo meu estado. Passei por uma falta de apoio concreto (o pai que chegava depois das 19h) -Esperar que o pai chegue para poder tomar banho e respirar. Passei por falta de apoio emocional, pois o pai não compreende as dificuldades (tudo era uma competição e com a sua insensibilidade e otimismo: o trabalho dele era pior).  Passei por poucos momentos de qualidade com o meu filho, pois fazemo-nos pressão a nós mesmos por agradar ao nosso filho e esquecemo-nos completamente. :( Passei por momentos onde não tinha paciência alguma (elevava a voz, queria estar tranquila, estava triste, cheguei a bater no Leonardo, mas não era culpa dele, por que é que eu faço isto?) e foi o sinal que precisava de ajuda - ajuda profissional. Eu queria mostrar o melhor de mim e não estava a conseguir. Tudo era um esforço. Não era normal, não era saudável. Era esgotante!!!!!!!!!!!!!!!!

De todas as fases que passei na vida, a de mãe é sem dúvida a mais intensa. Eu tive de me habituar à nova pessoa que nasceu: EU.


É fundamental, agora:

- Obrigar-me a ter tempo para mim!

- Deixar de lado o olhar e os comentários dos outros!

- Preencher o vazio interior!

- Falar!


Aprendi a não julgar, porque não sabemos o que os outros estão a passar verdadeiramente.
Amadureci e evoluí em muitos aspectos.


Não há pais perfeitos! 




Ninguém esconde melhor a dor do que a mãe que vai tentando permanecer forte pelos seus filhos.

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